Artigos, Sustentabilidade

As novas regras do capitalismo para uma gestão sustentável

As novas regras do capitalismo para uma gestão sustentável

*Por Gustavo Loiola

São muitas as discussões sobre a capacidade que o capitalismo tem em gerar transformações na sociedade, seja no desenvolvimento e crescimento dos cidadãos em busca de um futuro melhor, na construção de economias fortes e capazes de lidar com os riscos ou no incentivo à inovação. No entanto, sabemos que essa conta não fecha. A desigualdade é crescente e seguimos ainda com um número grande de pessoas que vivem em extrema pobreza, sem acesso a serviços básicos de saneamento, educação ou saúde.

 

Em sua carta anual de 2022, Larry Fink, CEO da Blackrock, a maior gestora de ativos do mundo, escreveu: “o acesso ao capital não é um direito, mas um privilégio, e o dever de atrair o capital de maneira responsável e sustentável é das empresas.” Isso explica muita coisa. O privilégio traz um enviesamento dos interesses das organizações, que por muito tempo tinham como foco principal os seus investidores e a garantia da maximização de lucros para atender esses interesses a qualquer custo. Felizmente estamos em um processo de mudança em relação ao papel das empresas na sociedade e isso foi muito potencializado com a pandemia, especialmente nas sociedades ocidentais.

 

Comparando as pesquisas realizados pela consultoria Edelman, que estudam confiança há mais de 20 anos, é possível perceber que devido à polarização entre governos e mídia, por exemplo, as pessoas estão deixando de confiar nas instituições tradicionais e se conectando mais com as empresas e os seus líderes. Segundo o Edelman Trust Barometer 2022, mais da metade dos entrevistados compraria ou defenderia marcas que têm valores e crenças parecidas com a sua, e o resultado é o mesmo para a preferência em trabalhar em empresas assim. Além disso, 64% utilizam essa conexão como critério para escolha de investimentos. Esses números mostram muitas oportunidades, mas também muita responsabilidade.

 

Uma gestão orientada para stakeholders é uma forma de lidar com essa responsabilidade. Isso significa entender de que forma a empresa pode gerar uma relação mútua de ganhos entre acionistas, funcionários, clientes, fornecedores, governos e a própria comunidade – o chamado Capitalismo de Stakeholders, que discute a alocação do capital de maneira eficiente, garantindo a lucratividade e geração de valor a longo prazo. De maneira prática, significa que as empresas deverão investir mais em criar bons ambientes de trabalho, inclusivos e diversos, para atrair e reter talentos que trabalhem mais motivados, ou ainda estimular parcerias com academia e governos a fim de enfrentar desafios em comum (como foi o caso da Covid-19), além de estarem atentas às transformações sociais e ambientais que estamos passando a fim de se tornarem agentes de ação para lidar com temas como as mudanças climáticas.

 

As novas peças já estão no tabuleiro. Cabe aos gestores e líderes de organizações escolherem a forma correta de jogar entendendo o contexto em que vivemos. A sociedade mudou e o ambiente corporativo precisa acompanhar essa transformação, caso contrário será engolido por uma nova geração de empresas que surgem com o viés de mudança. A disponibilidade de capital torna mais fácil a transformação de novas ideias em realidade, potencializando o cenário de inovação. E você, qual jogo vai seguir?

 

*Gustavo Loiola é Professor do Mestrado Profissional em Governança e Sustentabilidade do ISAE Escola de Negócios e Presidente da América Latina e Caribe dos Princípios para Educação Executiva Responsável (PRME) da ONU.